𝐹𝑖𝑙𝑜𝑠𝑜𝑓𝑖𝑎, 𝑇𝑒𝑜𝑙𝑜𝑔𝑖𝑎 𝑒 𝐶𝑢𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑒𝑚 𝐺𝑒𝑟𝑎𝑙!

domingo, 6 de dezembro de 2020

A TEORIA DA INVOLUÇÃO SOB A ÓTICA TOMISTA

 

       Outro dia, depois de ler o livro Suma Teológica de São Tomás de Aquino, estudando especificamente as cinco vias; fiquei absolutamente espantado com o tamanho da sua genialidade. Escrevi um artigo, chamado de Teoria da Involução, que mais tarde tornou-se um dos capítulos do meu livro: Os Desafios Da Vida No Ocidente: Diagnóstico De Um Leigo Católico Frente a Uma Cultura Ferida De Morte. Com efeito, depois da leitura,  pude racionalizar a Suma de São Tomás à hipótese no meu artigo ou capítulo do livro.

      Acredito que o artigo ou o capítulo do livro supracitado, ficou talvez de complexa compreensão. Como não me contento com o total não entendimento das coisas; tentarei iluminar meus raciocínios sob as vias deste grande Santo.

      Muito bem; primeiramente resumirei aqui ao máximo o que são as cinco vias. Antes de tudo, precisamos entender que, segundo São Tomás, é impossível regredir ao infinito; principalmente porque, ele não pode ser medido. Por exemplo, se pudéssemos tirar 40% do tamanho do infinito, continuaríamos tendo como resultado, o infinito.

      É necessário também entender que, para o Santo, diferente do infinito, o movimento é a mudança das coisas, que pode ser medido. Com efeito, o chamado universo que conhecemos, seria regido por uma relação de causas e efeitos.

      Na 1ª Via, chamada também de Via do Movimento; o Santo trabalhou o conceito de mudança ou mutabilidade sob a luz do conceito de Aristóteles. Portanto, movimento, é a potência sendo posta em ato. O que isso quer dizer? Que aquilo que se move só se move porque é movido por outra coisa. Explicando melhor; é impossível que alguma coisa esteja em ato e potência ao mesmo tempo. Os animais quando nascem ainda bem pequenos, são animais adultos em potência, ou seja, não são adultos, mas um dia serão. Outro exemplo; as crianças são velhos em potência, no momento não são, mas um dia serão. Com efeito, quando mais velhos, tanto os animais, quanto os humanos serão velhos em ato, não mais em potência. Enfim, o movimento, é a potência sendo posta em ato.

     Continuando; é impossível que, algo seja motor e móvel ao mesmo tempo para o mesmo fim. Contudo, é impossível que algo mude a sí mesmo. Dentro do argumento do Santo, teríamos duas saídas; ou o de reconhecer que há um primeiro motor imóvel; ou precisaríamos remontar ao infinito; o que é impossível.  Segundo ele, Deus é o ato próprio.

     Na 2ª Via, também chamada de Via da Causalidade Eficiente; o Santo defende o argumento de que para toda causa, existe um efeito. Toda causa é anterior ao seu efeito; contudo, se você nega a primeira causa, você nega a existência das causas intermediárias e por fim as causas últimas.

     Na 3ª Via, também chamada de Via do Contingente e do Necessário; o Santo relata que, na natureza, existem coisas que podem existir, e que também podem não existir. Com efeito, aqueles entes que podem vir a existir, ou deixar de existir, são chamados de entes contingentes. De acordo com o seu raciocínio, antes de qualquer ente contingente existir, necessariamente deveria haver um Ente causador de todos os outros entes. Ele deveria, portanto, existir desde sempre; sendo o único ser absolutamente necessário. Nele, a sua existência está atrelada a sua própria essência.

      Na 4ª via, também chamada de Via das Gradações do Ser; defende que, dentro do mundo natural, existem atributos como: beleza, verdade, bondade, nobreza, sabedoria dentre outros. Contudo, existem gradações de beleza, por exemplo, existe o não belo, o pouco belo, o medianamente belo e o muito belo. Existe a pessoa não boa, a pouco boa, a medianamente boa, a boa e a muito boa, e etc. Com efeito, há algo no nível máximo de tudo que existe. Qualquer outra perfeição, advém justamente, deste máximo que o chamamos de Deus.

     Na 5ª via, também chamada de Via do Governo dos Entes; defende a idéia de que, há uma inteligência que dirige todas as outras inteligências. Um exemplo disso são os animais. Mesmo não sendo dotados de intelecto, eles sabem como devem agir de acordo com aquilo que os convém. Por exemplo, o processo de reprodução em geral; a caça, a defesa do bando, a defesa do território e etc. Com efeito, para o Santo, o governo das coisas não se dariam somente pela pura vontade divina, mas também pelo intelecto divino. Os seres irracionais portanto, sendo assim, são governados de acordo com as suas próprias essências; mas sempre de acordo com as coisas pré-estabelecidas por Deus.

       Retomando ao artigo ou capítulo do livro sobre a Teoria da Involução; de acordo com a Teoria da Seleção Natural de Charles Darwin; os organismos mais aptos a viver em determinado ambiente sobrevivem; os demais morrem e são extintos. Darwin também defendeu a idéia de que, os animais não adquirem características que não precisam. Exemplo: Na natureza existiam girafas de pescoço curto e comprido; logo, apenas aquelas que tinham o pescoço mais comprido conseguiam acessar as folhas nas copas das árvores; então apenas elas sobreviviam, enquanto as de pescoço curto morreram e foram extintas. Assim o ambiente pressionou, e essas girafas foram com os milhões de anos adquirindo pescoços cada vez maiores. Perceba que no exemplo, a girafa adquiriu uma característica que foi necessária, que o ambiente exigiu que fosse; não confunda isso com o Lamarckismo.

Se os animais não adquirem características que não precisam; por que com o homem seria diferente? Explico; se o homem desenvolveu um cérebro incrivelmente potente; mas não é capaz de acessar mais que 5% de toda sua capacidade; e mesmo assim sobreviveu; como seria possível pela teoria de Darwin explicar o desenvolvimento desta característica? Respondo, dizendo, para esta característica em específico, não seria.

A Teoria da Involução defende a idéia de que, se os animais nunca adquirem características que não precisam; o homem, portanto, não a adquiriu; simplesmente sempre a teve desde sua criação, e com a desobediência inicial sua inteligência fez um movimento de ato para potência, conforme a 1ª Via. Acredito que, nos foi deixada em potência, para que possamos ter o mínimo de condições para alcançar os motivos de tamanho rebaixamento.

Ocorreu um movimento; obviamente não natural. Se hoje temos uma cognição potente, ou seja, que não conseguimos aproveitar com plenitude; isso vai completamente à contramão do que já é provado pela Teoria da Seleção Natural de Darwin. Ainda arremetendo a Via do Movimento; dentro do conceito de causa e efeito, nada pode mudar a si mesmo. Como o cérebro portanto poderia mudar por sí próprio, saindo de ato para potência? Respondo, dizendo, não poderia.

Isso quer dizer que a Teoria de Darwin está incorreta? Respondo, dizendo que não. Apenas não se aplica ao homem no ponto chave “cérebro/intelecto”. Com efeito, o intelecto no final voltará ao estado de ato na volta de Cristo? Uma última pergunta; após esta "involução" do intelecto, pode ocorrer a evolução de Darwin no homem? Muitos indícios dizem que sim, como constatam os fósseis de transição entre as espécies, a anatomia comparada dos animais, o arcabouço genético, os órgãos vestigiais  e etc.

De acordo com a 2ª Via, dentro da relação causa e efeito; a causa foi a desobediência inicial; e o efeito foi o rebaixamento do intelecto. Conforme a 3ª Via, as coisas podem existir, e não podem existir; bem como os seres vivos, que ora estão vivos, ora estão extintos. A 4ª Via, é a via das gradações do ser; tão logo, a inteligência em potência, seria um grau baixo do quadro geral de intelecção; sendo ela em ato, no nível máximo, pós volta de Cristo. Por fim, arremetendo a 5ª Via de São Tomás; existe um Ente que é a inteligência que dirige todas as outras inteligências. Concluo, dizendo que, a cognição atual do homem, em potência, só pode ter vindo de outra cognição de outro homem, em ato.  As conclusões em relação ao artigo / capítulo do livro anterior são iguais, ressaltando que, apenas o método investigativo aplicado no presente documento foi diferente.

 AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. v. I, parte I. 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.






           

 

             

 

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Um comentário:

  1. Que belo artigo, Toni.
    Percebo que, no entanto, o grau de dificuldade para o leitor aumenta, em muito, em razão da bem trabalha fusão de vertentes diversas da filosofia, cruzando com as diversas fazes da criação (causa é efeito), sob a luz extraordinária inteligência do maior teólogo da história da Igreja, o Doutor é santo, Tomás de Aquino.
    Um artigo para ser incluído em tábua de mármore.
    Parabéns.
    Pena que eu seja suspeito para fazer tal avaliação.

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