Artigo de O Fiel Católico.
“QUE IMAGENS nos vêm à mente quando pensamos na
palavra “Inquisição”? Há uma multidão que imediatamente visualiza cenas de
tortura e pessoas inocentes sendo queimadas na fogueira. É comum ouvirmos
gravíssimas acusações contra a Igreja toda vez que se toca neste assunto.
Muitos acham que a Igreja, se cometeu atrocidades no passado, não merece
crédito hoje. E por puro desconhecimento da História, muitos católicos não
sabem o que responder. A primeira pergunta a se fazer para quem critica a
Igreja por conta da Inquisição é: quais livros você leu sobre o assunto?
Muitas
pessoas têm o péssimo hábito de afirmar categoricamente, como se fossem
verdades absolutas, coisas das quais apenas ouviram falar, que viram em algum
filme hollywoodiano ou leram em alguma revista. Não negamos que a Inquisição
cometeu abusos – alguns graves –, mas lembramos ao leitor: se você quer ser
honesto, precisa procurar conhecer a verdade dos fatos antes de formar opinião.
Neste artigo, buscamos lançar alguma luz sobre a questão, com fundamentação na
História real. Não na imaginação de um diretor cinematográfico em busca de alta
bilheteria.
1. O primeiro passo
Para
começar a entender a questão, é fundamental conhecer o contexto mental,
histórico, cultural e político da época. O maior de todos os erros ao se
analisar este assunto é querer julgar fatos ocorridos numa outra era usando os
padrões de moral de hoje.
A
mentalidade, os valores éticos e os conceitos de moral mudam (normalmente
progridem) com o passar do tempo. Sem a consciência de que a moral humana
evolui é inviável analisar acontecimentos antigos. Tomemos como exemplo o
próprio Antigo Testamento da Bíblia: os hebreus aplicavam a pena de morte por
apedrejamento aos membros da comunidade que transgredissem a lei de Moisés, até
mesmo aos filhos desobedientes (conf. Dt 21,18-21 e outros). Nos dias de hoje,
uma pena dessas seria vista como desumana, cruel, hedionda. Naquela época,
dentro da mentalidade e da cultura daquele período histórico, era considerada
um ato de justiça.
Sim,
o tempo passa e os conceitos de moral e justiça vão se aperfeiçoando. E, como
cristãos, cremos que é Deus mesmo Quem nos dá consciência e capacidade
intelectual para que possamos evoluir e viver cada vez mais e melhor o Caminho
de Salvação, preparado para toda a humanidade e cumprido plenamente em Cristo.
O
primeiro passo neste estudo, portanto, é entender o óbvio: a Inquisição existiu
num período histórico muito diferente do nosso, com padrões de moral e justiça
completamente diversos dos que conhecemos atualmente. Diga-se que falar mal do
rei ou falsificar a moeda era punido com a pena de morte, o que era visto por
aquela sociedade como perfeitamente correto e justo. Dentro desse contexto, o
que mereceriam os traidores de Deus?
2. O 'telhado de vidro' dos acusadores da Igreja
Católica
Outro erro grave é imaginar que a Inquisição
Católica foi a única inquisição religiosa que existiu. Nesse período histórico,
os governos de todas as nações eram extremamente violentos, se comparados aos
de hoje; a lei e a ordem eram mantidas com mão de ferro e as penas eram
sanguinárias em todas as culturas, tanto cristãs quanto islâmicas, hindus e
pagãs em geral. Parece que uma página muito especial é descartada deste
capítulo da História, por muita gente, quando se discute o assunto Inquisição.
Responda rápido:
1) Que instituição religiosa condenou mais de 300
pessoas pela prática de bruxaria, decretando tortura e pena de morte na forca
às famosas "bruxas de Salem"?
2) Que instituição religiosa levou à morte mais de
30.000 camponeses anabatistas na Alemanha?
3) Sob que ordens o médico espanhol Miguel Servet
Grizar, o descobridor da circulação sanguínea, foi condenado a morrer na
fogueira?
4) Quem mandou para a fogueira mais de mil mulheres
escocesas, num período de seis anos (1555 - 1561)?
Sem
dúvida muita gente responderia rapidamente, sem pensar e sem medo de errar, que
a responsável por todas as barbaridades citadas acima foi a Igreja Católica.
Resposta errada: todos esses crimes foram cometidos pela Inquisição
Protestante, que quase nunca é mencionada pelos maiores críticos da Igreja
Católica, simplesmente porque esses críticos, na maioria das vezes, são
protestantes. Conhecimento seletivo? Parece que sim. Para piorar a situação,
certos "pesquisadores" de porta de boteco só procuram conhecer os
fatos que parecem confirmar aquilo em que eles querem crer.
Ocorre
que também aqui, em terra brasilis, a maior parte dos que atiram pedras contra
os católicos por conta da Inquisição é formada por
protestantes/"evangélicos", como é o caso do blogueiro Júlio Severo,
que em sua página publicou um lamentável artigo intitulado, simplesmente:
"Como querem combater a cultura da morte (...) quando se sentem à vontade
com a cultura da tortura e morte da Inquisição?", julgando que pode se
colocar, enquanto protestante, acima da questão e julgando-se moralmente apto a
julgar, de camarote, a Igreja Católica.
O
que mostra a História real, porém, é que o Sacro Imperador Romano-Germânico
Fernando I deu liberdade aos luteranos na luta contra os anabatistas, e o
próprio Lutero escreveu um discurso, em 1528, no qual encorajava a perseguição
dos que considerava hereges. Como resultado, grupos da Inquisição Protestante
esfolaram vivos os monges da Abadia de São Bernardo (Bremen), e depois passaram
sal em suas carnes vivas, antes de pendurá-los no campanário do mosteiro. Em
Augsburgo, em 1528, cerca de 170 anabatistas foram aprisionados por ordem do
poder público protestante, sendo que muitos deles foram queimados vivos e
outros marcados com ferro em brasa nas bochechas ou tiveram a língua cortada. O célebre teólogo Johann Matthäus Meyfart (protestante ele próprio) descreveu a
tortura aplicada pela Inquisição protestante, que ele presenciou,
qualificando-a como uma intolerável “bestialidade”, nos seguintes termos:
“Nos
países católicos não se condena um assassino, um incestuoso ou um adúltero a
mais de uma hora de tortura. Na Alemanha protestante, porém, a tortura é
mantida por um dia e uma noite inteira; às vezes, até por dois dias, outras
vezes até por quatro dias e, após isto, é novamente iniciada. Esta é uma
história exata e horrível, que não pude presenciar sem também me estremecer”
('Christliche Erinnerung, an Gewaltige Regenten und
Gewissenhafte Prädikanten', 1629-32)
Fique
bem claro, porém, que não mencionamos o "telhado de vidro"
protestante com a intenção de buscar a nossa justificação nos pecados alheios
(o que seria absurdo). Se o fazemos é apenas para demonstrar a veracidade
incontestável do primeiro ponto que apresentamos neste estudo: não é possível
julgar fatos ocorridos em outras eras usando os padrões de moral de hoje, e
absolutamente ninguém tem autoridade para fazê-lo. Se agirmos assim, não
restará pedra sobre pedra de instituição humana alguma; a única solução
possível será renegar e demolir tudo aquilo que construiu a civilização até o
presente. Como se pode imaginar, este é um assunto longo, que não cabe neste
estudo. O leitor que quiser saber mais a respeito pode ler um estudo próprio,
acessando o link abaixo:
"Só em nome da Igreja Católica cometeram-se
crimes ao longo da História?"
3. Das causas da Inquisição da Igreja Católica
A
Inquisição da Igreja Católica foi estabelecida na França, pelo Papa Gregório IX
em 1231, para combater a heresia cátara, uma seita cuja doutrina contrariava
todos os princípios que os Evangelhos e a Igreja defenderam desde o início do
cristianismo. Foi uma das maiores ameaças à fé cristã de todos os tempos, mas
não apenas isso. Os cátaros também ameaçavam a própria ordem social, pois eram
contra a procriação e o Matrimônio. Consideravam malditas as grávidas,
defendiam o suicídio por inanição, pregavam a renúncia radical aos prazeres,
negando a Igreja e o culto religioso. Viam o corpo como intrinsecamente mau
(uma manifestação do mal), e ensinavam a salvação através de um ciclo de
reencarnações.
Os
cátaros ensinavam que nossos corpos e o mundo material tinham sido criados por
um deus mal, e que o homem não devia se reproduzir. Para o catarismo, dois
princípios eternos dividiam o Universo: um bom, criador do mundo dos espíritos,
e um mau, criador do mundo terreno. Como todas as heresias, o catarismo
afirmava que a sua doutrina era o “verdadeiro cristianismo”, usando alguns
termos e conceitos cristãos mas distorcendo seus significados e renegando os
dogmas. Viam a Cristo como um “anjo caído” e negavam a Ressurreição do Senhor,
rejeitando todos os Sacramentos. O aborto e o suicídio eram alguns dos seus
princípios básicos.
O
catarismo se expandiu muito: dominaram o Languedoc, a Provença, influenciaram o
nordeste da Espanha, a Lombardia, a Itália, a atual Yugoslávia e os Bálcãs.
Passaram a ameaçar a estrutura da sociedade ocidental como um todo, e o
problema cresceu a níveis realmente alarmantes, já que proibiam o juramento de
lealdade, que era o fundamento das relações. Combatidos pelo Estado, os cátaros
se ocultaram, mas continuaram difundindo suas ideias e práticas.
O
catarismo tornou-se uma ameaça grande demais para ser tolerada. A população
assustada clamava por uma providência firme, e o Estado passou a perseguir os
cátaros com grande violência. Com o tempo, a situação ficou insustentável,
havia uma histeria e pessoas inocentes estavam sendo perseguidas e executadas
sob falsas acusações. Assim, por incrível que possa parecer aos nossos ouvidos,
tão habituados a ouvir grandes calúnias com este pretexto, a Inquisição surgiu
como uma providência da Igreja para combater a onda de violência e buscar a
justiça no combate à heresia.
4. Simpósio Internacional sobre a Inquisição – dos
métodos da Inquisição católica que realmente existiu (não a dos filmes)
Como
dissemos no início, todo inimigo da Igreja em algum momento apela para o
argumento da Inquisição (que nos ambientes acadêmicos já está bem
ultrapassado). Por incrível que pareça, muitos desavisados ainda acreditam nas
fábulas claramente tendenciosas (para dizer o mínimo) escritas por Voltaire e
outros. Chegamos a ouvir e ler que a Igreja teria mandado matar 4 milhões de
mulheres só na Inglaterra(!), quando a população de Londres do século XV era de
aproximadamente seis milhões de pessoas... Bem, se ainda existem ingleses no
mundo, hoje, aí está a prova cabal da ridícula calúnia.
O
Papa João Paulo II afirmou certa vez: “Na opinião do público, a imagem da
Inquisição representa praticamente o símbolo do escândalo”. E perguntou “Até
que ponto essa imagem é fiel à realidade?”. Vamos, então, aos fatos:
evidentemente, a elucidação da questão depende diretamente dos dados e números
históricos; apresentamo-los abaixo.
Tomamos
como referência as atas do Grande Simpósio Internacional sobre a Inquisição –
do qual participaram 30 reconhecidos historiadores de diversas confissões
religiosas –, com o objetivo de conferir um tratamento histórico e definitivo
ao controverso tema Inquisição: uma proposta feita e motivada (atenção) pela
própria "cruel" Igreja Católica.
O
encontro realizou-se entre os dias 29 e 31 de outubro de 1998. Com a total
abertura dos arquivos da Congregação do Santo Oficio e da Congregação do
Índice. As atas deste Simpósio foram, alguns anos depois, reunidas e
apresentadas ao público sob a forma de livro, contendo 783 paginas, intitulado
originalmente “L’Inquisioni”, por Agostinho Borromeo, historiador, professor da
Universidade de La Sapienza de Roma e presidente do Instituto Italiano de
Estudos Ibéricos.
As
atas documentais do Simpósio já foram e continuam sendo utilizadas em diversas
obras acadêmicas; tais documentos são o resultado de uma profundíssima pesquisa
sobre os dados realmente históricos dos processos inquisitoriais: as seguintes
afirmações foram proferidas pelo citado Agostinho Borromeo:
• Sobre a “terrível” Inquisição espanhola: “A
Inquisição na Espanha celebrou, entre 1540 e 1700, 44.674 juízos. Os acusados
condenados à morte foram apenas 1,8% (804) e, destes, 1,7% (13) foram
condenados em 'contumácia', ou seja, pessoas de paradeiro desconhecido ou
falecidos os quais, em seu lugar, simbolicamente se 'executavam' bonecos”. É
fundamental entender que a Inquisição espanhola foi uma instituição
principalmente civil, não controlada pela Igreja, e que a própria Igreja
censurou e tomou medidas contra ela. Também é fundamental saber que quase tudo
o que se divulgou a respeito da Inquisição espanhola é fruto das calúnias
difundidas pelo ex-padre Juan Antonio Llorente, um apóstata que produziu
documentos sobre a Inquisição na Espanha com o interesse de ajudar a França de
Napoleão a dominar aquele país. Llorente queimou todos os documentos que usou,
para que não se descobrissem falsificações.
• Sobre a famosa “caça às bruxas”: “Dos 125.000
processos ocorridos em toda a sua história, os tribunais da Inquisição
espanhola condenaram à morte 59 pessoas” (a propaganda anticatólica diz que
foram 'milhões'!).
Constatou-se
que os tribunais religiosos eram indubitavelmente mais brandos que os tribunais
civis; que tiveram poucas participações nestes casos, o que não aconteceu com
os tribunais civis que, estes sim, condenaram à morte milhares de pessoas.
• Sentenças de um famoso inquisidor – “Em 930
sentenças que o Inquisidor Bernardo Guy pronunciou, em 15 anos, houve 139
absolvições, 132 penitências canônicas, 152 obrigações de peregrinações, 307
prisões e 42 'entregas ao braço secular'”, isto é, ao Estado (AQUINO, 2009,
p.23).
O
Simpósio concluiu, ao final, que as penas de morte e os processos em que se
usou de tortura foram raros e pouco expressivos, ao contrário do se imaginava e
do que foi amplamente propagado, por séculos a fio. Tais dados históricos
definitivos representam a verdadeira demolição das falsas e fantasiosas ideias
sobre a Inquisição.
• Sobre a tortura, que era imposta pelo Estado, e
não pela Igreja - a Inquisição foi a primeira instituição jurídica no mundo a
declarar que as confissões sob tortura não seriam válidas para a condenação de
alguém. A Inquisição exigiu que a tortura fosse limitada, e que deveria ser
usada apenas para a obtenção de informações, e não como instrumento de punição.
Que não poderia violar a integridade física da pessoa; que deveria ser limitada
a no máximo meia hora, que deveria ser assistida por um médico e que jamais
poderia se repetir.
• O recurso da tortura, que era usado sempre nos
tribunais laicos, não era constante na Inquisição, que recorreu muito raramente
a esse procedimento: ao todo, menos de 10% dos processos usaram tal método8. A
Inquisição impôs uma regra que proibia aos eclesiásticos derramar qualquer gota
de sangue dos réus, e confissões obtidas sob tortura perderam a validade. No
fim, o tribunal religioso condenou pouco.
Notemos
como a verdade histórica é radicalmente diferente daquela que vemos nos filmes
de Hollywood (EUA = protestantismo). Os fatos surpreendem os leigos,
acostumados a ouvir grandes e absurdos exageros. O fato é que a Inquisição
também tinha por finalidade controlar os excessos de violência cometidos pelo
Estado, e este é um fato tão certo que muitos presos, julgados pelos tribunais
do Estado, passavam a blasfemar contra Deus e contra a Igreja, na esperança de
serem transferidos para os tribunais da Inquisição!
• Fato: as ações repressoras da Inquisição foram
bem menos implacáveis que as civis, e indubitavelmente os métodos aplicados
pela Inquisição eram mais humanos que os da autoridade civil: um notário
transcrevia o processo, os acusados não ficavam presos durante o inquérito,
podiam recusar um juiz e apelar para Roma contra alguma decisão do tribunal6.
Por quê, então, se mantém uma imagem tão terrível do Santo Ofício? Por vários
motivos, mas foi sobretudo o fanatismo do inquisidor espanhol Tomás de
Torquemada (século XV), que ficou gravado na memória popular. Daí veio o protestantismo,
no século XVI, o antipapismo anglicano, o iluminismo e o anticlericalismo dos
séculos XIX e XX... Um conjunto de eventos e adversários da Igreja que pintaram
um quadro pavoroso da Inquisição, que, mesmo sendo falso, ainda repousa na
mentalidade do nosso tempo.
Poucas
pessoas conhecem esses detalhes importantíssimos a respeito da História, mas
muitos se acham qualificados para criticar a Igreja, imaginando que sabem tudo
o que é preciso saber para formar e expressar opinião.
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3. MC'NEILL, John T. The History and Character of
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fogueira como herege por ordem do Conselho de Genebra, presidido por João
Calvino].
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dell´Inquisizione, Piemme: Casale Monferrato, 2001.
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8. Revista "História Viva" nº 32 -
especial Grandes Temas / A Redescoberta da Idade Média, São Paulo: Duetto
março/2011, p. 52.
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• FALBEL, Nachman. Heresias Medievais. São Paulo:
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• PERNOUD, Régine. Luz Sobre a Idade Média. Sintra:
Europa-América, 1981
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MAISONNEUVE, Henri. L’Inquisition. Paris: Desclée, 1989.
• HEERS, Jacques. A Idade Média: uma Impostura.
Lisboa: Asa, 1994.
• GIMPEL, Jean. A Revolução Industrial da Idade
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