Procuro a essência de tudo
enquanto meus sentidos despertam
na magia sem perfume nem côr
enquanto meus sentidos despertam
na magia sem perfume nem côr
e perfumada e colorida.
Os acordes sem sons com gamas
de notas sem dono,
personificando a universalidade
compacta das coisas que se me
apresentam em visões de matéria.
Sinto o arrepio letárgico
que nos consagra para a imortalidade
consciente de quando vivos,
viventes e carentes de amor maior
que o amor que nos entrega o infinito.
Nesta lassidão de corpo e manhosidade
de procurar formas e côres com olhos,
procuro Deus nas formas e nas côres.
Encontro formas e côres e no sem formas
e sem côres coloridas,
meio ao alheamento sistemático e consciente,
Deus se manifesta
em meu cérebro dormente e letárgico.
Brinco na criancice de codificar pensamentos
em poemas desfeitos de palavras exatas.
Destaco-me, sorrindo, do mundo real
e esta transação faz-me sofrer
com pouco de saudade das coisas
que me são reais e presentes.
Talvez fôsse melhor se eu desse atenção
a essa visita que me chegou agora.
Sorrio para ela distante... distante
bem aqui a meu lado.
Relembro e encontro-me com Liszt e Sócrates
que agora não invejo.
Encontro-me corpo e alma em sua classe
e altura de musicalidade e pensamento.
E tôda classe desfaz-se em música e côres
e entendimento comum, em todos os corpos
e gentes passantes e vividas e se eleva à
sua forma mais completa e sem forma de nada.
O tudo se manifesta insistentemente,
insistentemente uno.
Sinto o gôsto empírico e metafísico do vento
que saiu de algum lugar
do tudo varrido de formas.
Sinto a ventilação gostosa do passeio
domingueiro do espírito e uma sacudidela
no corpo respondendo bem estar físico.
Talvez seja êste o melhor poema de tantos
que todos já escreveram, penso eu.
Antes de mim não existiram nem
gênios, nem sábios nem destaques humanísticos.
Sou meu próprio fim e meu próprio
princípio e comêço.
Sou minha própria procura e descoberta,
sou minha própria religião e meu próprio poeta.
Deus existiu antes de mim, agora, e existirá
depois de mim.
No contato do eu com solo e Homem,
Sou todos e nada de mim propriamente
espiritual.
Alegro-me com a efemeridade das coisas banais
como por exemplo o viver sem ter
querido gestação para evolução de corpo.
Entristeço-me com o real bloqueamento
de consciência e compreensão do questionamento
do vir-a-ser.
(Um dia não mais escreverei mecânicamente
o que o sentido revela.
Existirá o sentido mortificante da morte
paralisando a mão e os membros
e a constante espera do vir-a-ser).
E se eu desenhasse aqui um gato,
estaria desenhando minha figura
estampadamente e fisicamente
doada à matéria,
mas, praticamente não saberia transpor
nem nestes versos que são livres
como penso, nem porque penso.
Como não saberia definir como vejo e porque vejo
como sinto e porque sinto,
mesmo sabendo que sinto, como sinto e porque sinto.
A felicidade existe e passa em séries inesgotáveis
em cada dia.
A dor espiritual existe porque intercala o cada dia
e o cada hora.
Mas não como existem nem porque existem.
Talvez fôsse melhor até que eu não estivesse pensando.
Talvez fôsse melhor se eu procurasse entender
porque existem carências e lutas de Homem pra Homem
ou talvez fôsse melhor eu buscar o mapa
para eu aprender geografia e perguntar-me
porque os chineses são amarelos e os congoleses
são negros.
Estaria pensando pra nada também.
Por isto escrevo. Talvez fôsse melhor
que nada escrevesse, pois diria tudo.
Nina Rosa

Nina Rosa
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