𝐹𝑖𝑙𝑜𝑠𝑜𝑓𝑖𝑎, 𝑇𝑒𝑜𝑙𝑜𝑔𝑖𝑎 𝑒 𝐶𝑢𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑒𝑚 𝐺𝑒𝑟𝑎𝑙!

sábado, 5 de maio de 2018


“Os sintomas do TOC envolvem alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de conteúdo impróprio ou “ruim”, obsessões) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão).  Portadores da doença sofrem de muitos medos, como por exemplo o  de contrair doenças ou cometer alguma falha. Em virtude desses medos, evitam as situações que possam provocá-los – comportamento chamado de evitação. As evitações, embora não específicas do TOC, são, em grande parte, as responsáveis pelas limitações que o transtorno acarreta.
Obsessões:
São pensamentos repetidos, impulsos ou imagens mentais que causam ansiedade. Os sintomas comuns incluem:

·         Medo de germes ou contaminação, lavando as mãos excessivamente.
·         Preocupar-se excessivamente com limpeza.
·         Revisar diversas vezes portas, janelas, gás ou o ferro de passar roupas antes de sair de casa ou dormir.
·         Pensamentos proibidos ou indesejados envolvendo sexo, religião e danos
·         Pensamentos agressivos em relação aos outros ou a si próprio
·         Ter coisas simétricas ou em uma ordem perfeita”


Infelizmente ainda existe muito preconceito com relação às doenças mentais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o TOC é classificado como uma das dez doenças mais debilitantes. Interessante é que os portadores dessa doença geralmente são pessoas inteligentes e criativas; ficam em alerta constante sempre preocupados com seus entes queridos em relação a possíveis problemas; o que gera um estado de alerta intermitente.
            Doki é um amigo de infância, assim como eu pertence à geração “Y”, naquela época a informação transitava de forma lenta. Ficávamos restritos em saber sobre tudo que ocorria no mundo através da TV – apesar de sabermos hoje que a TV não é fonte primária de informação – telefone fixo, somente as famílias com mais condições tinha. Era uma época muito divertida; Doki, eu e os outros amigos brincávamos na rua e nos divertíamos muito; derrubar lata; simulações de lutas; futebol – jogávamos descalços até dar bolha de sangue nos pés – bem como, ficávamos até tarde da noite na porta da casa de um dos amigos, batendo longos papos, era muito divertido; diferente de hoje, se você sai nas ruas à noite, encontra um completo vazio, onde impera um medo absoluto de transitar.
            O tempo passou, muito dos amigos ficaram apenas nas lembranças; todavia, Doki, eu e alguns poucos outros continuaram com a amizade; mesmo com certa distância, pois, agora, cada um tem sua vida, suas responsabilidades, seus filhos e etc. Lembro que Doki era um cara normal, era como todos nós; mas sua família tinha algumas pessoas “estranhas”, sua irmã tinha o que chamaram na época de depressão. Lembro de um dia que estavamos com Doki em sua casa e escutamos sua irmã chorando incessantemente. Doki virou para mim e disse: “ela é louca, não liga”; e em especial nesse dia, tiveram que sair atrás dela tarde da noite para trazê-la de volta para casa; estava em prantos, e nós – amigos – na porta da casa dele observávamos aquilo e não entendíamos nada.
            Da adolescência para frente, todos se distanciaram um pouco, um foi pro exterior, outro se casou, e etc. Doki foi estudar; era um cara inteligente, tinha respostas rápidas para tudo. Lembro que quando os amigos chegavam com seus boletins recheados com notas vermelhas para mostrar para seus pais; ele de forma até arrogante mostrava seus altos rendimentos escolares. Lembro que ele tinha amigos, porém muitos outros o odiavam; tinha personalidade forte.
            O “Boom” da internet ocorreu no ano 2000. As informações a partir de então circulavam de forma absurda; distanciei-me dos amigos de infância, mas de Doki não. Outro dia sua esposa me relatou que ele não estava bem; que ficava caladão, triste, introvertido, não queria conversar e estava emagrecendo muito. Tentei uma aproximação para tentar descobrir a causa disso; porém Doki não me atendia. Um dia qualquer ele me manda uma mensagem: “quero morrer!” Levei um baita susto, porém a partir daí ele começou a conversar comigo.
            Não foi difícil identificar que ele estava com depressão; daí lembrei-me da nossa infância e dos casos que tinha na família; não somente a irmã dele tinha, mas a mãe também. Encontramo-nos algumas vezes para conversar; e ele envergonhado me disse certa vez: “acho que estou ficando louco”. Achei estranho aquilo, como alguém fica louco, sendo que toda a vida foi normal? Lembro que respondi para ele que se tranquilizasse, pois, não estava louco. Perguntei a ele o que acontecia, por que achava aquilo; então me relatou uma série de situações. Doki me relatou o seu sofrimento da seguinte forma: “Imagine um medo terrível que você passou em algum momento da sua vida; imagine também uma situação de stress imenso qualquer que você se lembra; agora multiplique isso 24 horas por dia, isso é o que eu sinto”. "Lembra quando chamava minha irmã de doida? Pois é, como me arrependo...".
            De um tempo pra cá, ele me disse que começou a conferir mais de uma vez se o gás estava ligado; a porta, mesmo após ser trancada, tentava abri-la mais de uma vez dentre outras coisas estranhas. Até então, segundo ele tudo bem, conferir uma coisa aqui, outra ali, se ninguém observasse tudo bem. Disse a Doki que já tinha ouvido falar sobre isso,  chamava-se TOC (transtorno obsessivo compulsivo); que não era loucura, era uma das facetas de stress, da depressão.
            Mas achei estranho ele querer se matar; seria um problema com manias importante a ponto dele querer tirar a própria vida? Questionei isso com ele, e então me disse algo inusitado. Relatou que tinha pensamentos onde ele se via em situações repugnantes, que ele na realidade odeia, e aquilo causava um sofrimento catastrófico a ele. Ele me disse que chegou a momentos de horrível sofrimento mental onde ele preferia ter um braço, ou perna cortados a ter que sofrer daquela maneira, ou até mesmo morrer.  
            Ele me relatou uns exemplos, e finalmente entendi o que estava o acontecendo. Nessa altura ele já estava fazendo tratamento com o psiquiatra e estava medicado; teve os seus sintomas abrandados. Descobriu que, o TOC não ficava apenas na esfera das conhecidas conferências, de lavar as mãos, de organizar as coisas de forma metódica; mas que afetava também seus pensamentos. Doki é um homem de fé; e quero crer que isso o ajudou muito. Hoje ele relata ter consciência que quando ocorre um pensamento compulsivo, não é ele, mas sim o TOC. Sempre que tinha um pensamento compulsivo, se culpava, se achava um monstro. Hoje, Doki é outro, pelo que eu aprendeu a lhe dar com o TOC. Descobriu que não é coisa de outro mundo, que não estava ficando louco. Parte daquela patologia era genética, parte era social; como meu amigo, pelo menos no que percebo, Doki está muito feliz! Achei relevante relatar o caso dele, pois, se ocorreu com Doki, pode ocorrer com qualquer um; principalmente em um mundo onde tudo corre tão rápido. A falta de informação e o medo do que os outros pensariam quase ceifou a vida de um cara incrível. Que possamos refletir sobre as patologias da mente; ainda existe muito preconceito sobre; muitas vidas ainda se apagam pela ignorância alheia, tanto dos doentes, quanto dos seus entes e amigos, e isso é um fato! Rezemos por eles.

TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo – Sinais, sintomas e tratamentos. Disponível em:< https://www.vittude.com/blog/toc-transtorno-obsessivo-compulsivo-sinais-sintomas-e-tratamentos/ > . Acesso em: 06/02/2018.





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