“Os sintomas
do TOC envolvem alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições,
evitações), dos pensamentos (preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de
conteúdo impróprio ou “ruim”, obsessões) e das emoções (medo, desconforto,
aflição, culpa, depressão). Portadores
da doença sofrem de muitos medos, como por exemplo o de contrair doenças ou cometer alguma falha.
Em virtude desses medos, evitam as situações que possam provocá-los –
comportamento chamado de evitação. As evitações, embora não específicas do TOC,
são, em grande parte, as responsáveis pelas limitações que o transtorno
acarreta.
Obsessões:
São
pensamentos repetidos, impulsos ou imagens mentais que causam ansiedade. Os sintomas
comuns incluem:
·
Medo de germes ou contaminação, lavando as mãos
excessivamente.
·
Preocupar-se excessivamente com limpeza.
·
Revisar diversas vezes portas, janelas, gás ou o ferro de
passar roupas antes de sair de casa ou dormir.
·
Pensamentos proibidos ou indesejados envolvendo sexo,
religião e danos
·
Pensamentos agressivos em relação aos outros ou a si
próprio
·
Ter coisas simétricas ou em uma ordem perfeita”
Infelizmente
ainda existe muito preconceito com relação às doenças mentais. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde, o TOC é classificado como uma das dez doenças
mais debilitantes. Interessante é que os portadores dessa doença geralmente são
pessoas inteligentes e criativas; ficam em alerta constante sempre preocupados com seus entes queridos em relação a possíveis problemas; o que gera um estado
de alerta intermitente.
Doki é um amigo de
infância, assim como eu pertence à geração “Y”, naquela época a informação
transitava de forma lenta. Ficávamos restritos em saber sobre tudo que ocorria
no mundo através da TV – apesar de sabermos hoje que a TV não é fonte primária
de informação – telefone fixo, somente as famílias com mais condições tinha. Era
uma época muito divertida; Doki, eu e os outros amigos brincávamos na rua e nos
divertíamos muito; derrubar lata; simulações de lutas; futebol – jogávamos descalços
até dar bolha de sangue nos pés – bem como, ficávamos até tarde da noite na
porta da casa de um dos amigos, batendo longos papos, era muito divertido; diferente
de hoje, se você sai nas ruas à noite, encontra um completo vazio, onde impera
um medo absoluto de transitar.
O tempo passou, muito
dos amigos ficaram apenas nas lembranças; todavia, Doki, eu e alguns poucos
outros continuaram com a amizade; mesmo com certa distância, pois, agora, cada
um tem sua vida, suas responsabilidades, seus filhos e etc. Lembro que Doki era
um cara normal, era como todos nós; mas sua família tinha algumas pessoas “estranhas”,
sua irmã tinha o que chamaram na época de depressão. Lembro de um dia que
estavamos com Doki em sua casa e escutamos sua irmã chorando incessantemente. Doki
virou para mim e disse: “ela é louca, não liga”; e em especial nesse dia,
tiveram que sair atrás dela tarde da noite para trazê-la de volta para casa;
estava em prantos, e nós – amigos – na porta da casa dele observávamos aquilo e
não entendíamos nada.
Da adolescência para
frente, todos se distanciaram um pouco, um foi pro exterior, outro se casou, e
etc. Doki foi estudar; era um cara inteligente, tinha respostas rápidas para
tudo. Lembro que quando os amigos chegavam com seus boletins recheados com
notas vermelhas para mostrar para seus pais; ele de forma até arrogante
mostrava seus altos rendimentos escolares. Lembro que ele tinha amigos, porém
muitos outros o odiavam; tinha personalidade forte.
O “Boom” da internet
ocorreu no ano 2000. As informações a partir de então circulavam de forma
absurda; distanciei-me dos amigos de infância, mas de Doki não. Outro dia sua
esposa me relatou que ele não estava bem; que ficava caladão, triste,
introvertido, não queria conversar e estava emagrecendo muito. Tentei uma
aproximação para tentar descobrir a causa disso; porém Doki não me atendia. Um
dia qualquer ele me manda uma mensagem: “quero morrer!” Levei um baita susto,
porém a partir daí ele começou a conversar comigo.
Não foi difícil
identificar que ele estava com depressão; daí lembrei-me da nossa infância e
dos casos que tinha na família; não somente a irmã dele tinha, mas a mãe
também. Encontramo-nos algumas vezes para conversar; e ele envergonhado me
disse certa vez: “acho que estou ficando
louco”. Achei estranho aquilo, como alguém fica louco, sendo que toda a
vida foi normal? Lembro que respondi para ele que se tranquilizasse, pois, não
estava louco. Perguntei a ele o que acontecia, por que achava aquilo; então me
relatou uma série de situações. Doki me relatou o seu sofrimento da seguinte
forma: “Imagine um medo terrível que você
passou em algum momento da sua vida; imagine também uma situação de stress imenso qualquer que você se lembra; agora multiplique isso 24 horas por dia, isso é o
que eu sinto”. "Lembra quando chamava minha irmã de doida? Pois é, como me arrependo...".
De um tempo pra cá, ele me disse que começou a conferir mais de uma vez se o gás estava ligado; a porta, mesmo após
ser trancada, tentava abri-la mais de uma vez dentre outras coisas estranhas.
Até então, segundo ele tudo bem, conferir uma coisa aqui, outra ali, se ninguém
observasse tudo bem. Disse a Doki que já tinha ouvido falar sobre isso, chamava-se TOC (transtorno obsessivo compulsivo); que não era loucura, era uma
das facetas de stress, da depressão.
Mas achei estranho ele
querer se matar; seria um problema com manias importante a ponto dele
querer tirar a própria vida? Questionei isso com ele, e então me disse algo inusitado. Relatou que tinha pensamentos onde ele se via em situações repugnantes, que
ele na realidade odeia, e aquilo causava um sofrimento catastrófico a ele. Ele
me disse que chegou a momentos de horrível sofrimento mental onde ele preferia
ter um braço, ou perna cortados a ter que sofrer daquela maneira, ou até mesmo
morrer.
Ele me relatou uns
exemplos, e finalmente entendi o que estava o acontecendo. Nessa altura ele já
estava fazendo tratamento com o psiquiatra e estava medicado; teve os seus sintomas abrandados.
Descobriu que, o TOC não ficava apenas na esfera das conhecidas conferências,
de lavar as mãos, de organizar as coisas de forma metódica; mas que afetava também
seus pensamentos. Doki é um homem de fé; e quero crer que isso o ajudou muito.
Hoje ele relata ter consciência que quando ocorre um pensamento compulsivo, não é ele,
mas sim o TOC. Sempre que tinha um pensamento compulsivo, se culpava, se achava
um monstro. Hoje, Doki é outro, pelo que eu aprendeu a lhe dar com o TOC. Descobriu que não é
coisa de outro mundo, que não estava ficando louco. Parte daquela patologia era
genética, parte era social; como meu amigo, pelo menos no que percebo, Doki
está muito feliz! Achei relevante relatar o caso dele, pois, se ocorreu com
Doki, pode ocorrer com qualquer um; principalmente em um mundo onde tudo corre
tão rápido. A falta de informação e o medo do que os outros pensariam quase
ceifou a vida de um cara incrível. Que possamos refletir sobre as patologias da
mente; ainda existe muito preconceito sobre; muitas vidas ainda se apagam pela
ignorância alheia, tanto dos doentes, quanto dos seus entes e amigos, e isso é um fato! Rezemos por eles.
TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo –
Sinais, sintomas e tratamentos. Disponível em:< https://www.vittude.com/blog/toc-transtorno-obsessivo-compulsivo-sinais-sintomas-e-tratamentos/
> . Acesso em: 06/02/2018.
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