Texto
de Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior.
“O dogma da maternidade divina de Maria está ligado
a um artigo inegociável do credo cristão: a encarnação do Verbo. Por volta do
século V, graves crises cristológicas surgiram, causando grande perturbação no
seio da Igreja. Dizia-se, entre outros absurdos, que Jesus não possuía duas
naturezas — a humana e a divina —, mas somente esta última. Nestório, um
importante bispo da época, defendia outra tese: Jesus seria um simples homem
elevado à divindade por pura graça de Deus. Com essa afirmação, ele intentava
pôr fim ao piedoso título de Theotókos (Mãe de Deus), atribuído pela comunidade
a Maria, porque o considerava um grande escândalo (não muito diferente do que
postulam certas seitas atuais).
Ocorre
que a afirmação de Nestório, como a das demais heresias cristológicas,
provocava uma séria dificuldade para a doutrina da remissão dos pecados.
Segundo ensinam os Santos Padres, o que não foi assumido não foi redimido. Isto
significa que só há verdadeira salvação se Jesus for o Verbo de Deus
verdadeiramente encarnado. Se o que morreu na cruz era apenas um homem, esse
sacrifício não teve valor algum. Foi o que notou São Cirilo de Alexandria na sua
contundente defesa do título Theotókos. Ora, Maria é Mãe de Deus porque em
Jesus há apenas uma pessoa (a divina) e duas naturezas (a divina e a humana). E
a maternidade diz respeito a uma pessoa, não a uma natureza.
De
fato, este dogma mariano é mais bíblico do que se imagina. Inspirada pelo
próprio Espírito Santo, Isabel proclamou: Donde me vem esta honra de vir a mim
a Mãe de meu Senhor? (Lc 1, 43). Nestas palavras acertadas, exprime-se toda a
alegria com que os católicos costumam dirigir-se a Nossa Senhora, aquela que
vem às pressas socorrer as necessidades de seus filhos (cf. Lc 1, 39). Maria
está inseparavelmente ligada à redenção porque "foi dela que o Verbo
assumiu, como próprio, aquele corpo que havia de oferecer por nós". Não se
tratava de um corpo extrínseco nela introduzido, recorda Santo Atanásio; o anjo
disse-lhe: de ti (cf. Lc 1, 35), "para se acreditar que o fruto desta
concepção procedia realmente de Maria" [1].
O
Concílio Vaticano II ensina que a "maternidade de Maria na economia da
graça perdura sem interrupção". Isso significa que, mesmo após assunta aos
Céus, Maria "não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua
multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação
eterna" [2]. Quantos têm desperdiçado este auxílio precioso por culpa ora
de más teologias, ora do paganismo que se propaga nos grandes meios de
comunicação.
Caminhamos
para o centenário das aparições da Mãe de Deus em Fátima, Portugal. É uma ótima
oportunidade para redescobrirmos o valor da espiritualidade mariana,
lembrando-nos dos pedidos que a Senhora fez à humanidade: oração e mortificação
pela paz no mundo e pela salvação dos povos. Enquanto alguns fazem troça desses
pedidos, os católicos têm o dever de ecoar pelos quatro cantos da Terra a
mensagem daquela cujo coração triunfará no último dia. Como salientou Bento XVI
durante visita a Portugal, "iludir-se-ia quem pensasse que a missão
profética de Fátima esteja concluída" [3]. Não somos deste mundo, não
somos filhos desta terra. Nossa verdadeira Mãe leva-nos a escolher os bens que
não passam. Confiemos a ela este novo tempo que se inicia para que tenhamos
verdadeiramente um "feliz ano novo".”
A Mãe de Deus e a falsa mãe
do mundo. Disponível em: < https://padrepauloricardo.org/blog/a-mae-de-deus-e-a-falsa-mae-do-mundo > . Acesso em: 30/03/2018.
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