Quarta parte
É
FUNDAMENTAL QUE TODO cristão compreenda bem a importância da graça do Batismo
em sua vida. Este artigo, claro, não é suficiente para esclarecer completamente
toda a riqueza e o valor do maravilhoso Sacramento do Batismo. Serve mais como
um convite à reflexão.
O batismo de João e o Batismo cristão
Ninguém pode compreender o Batismo sem pensar na Ressurreição de Jesus. Na madrugada daquele domingo glorioso, o Pai derramou o Espírito Santo, Espírito de Ressurreição, sobre o Filho: seu Corpo e Alma foram ressuscitados. Jesus ficou pleno do Espírito Santo, de modo que sua natureza humana tornou-se gloriosa: Jesus foi manifestado na carne (natureza humana) e justificado (e ressuscitado) pelo Espírito (1Tm 3, 16).
Jesus
Cristo, glorificado pelo Espírito Santo, entrou no Cenáculo de Jerusalém e
derramou o Espírito da Ressurreição sobre os Apóstolos: “A paz esteja convosco!
Recebei o Espírito Santo (Jo 20, 19-22)!” Jesus recebeu do Pai o Espírito Santo
prometido, batizou nEle a Igreja e derramou sobre nós este mesmo Espírito (At
2, 32)!
João
Batista já havia profetizado: “Eu batizo com água, mas vem aquele que batizará
com o Espírito e com Fogo” (Jo 1, 33; Lc 3, 16). O batismo de João, na água,
era preparatório para a vinda do Messias: ainda não era o Sacramento do
Batismo, não era o Batismo cristão. É o Messias, isto é, o Ungido no Espírito
de Ressurreição, quem batizará no Espírito. Cristo mesmo diz: “O Espírito do
Senhor está sobre mim, o Senhor me ungiu” (Lc 4, 18). Os cristãos, portanto,
nunca tiveram “batismo nas águas”: o nosso Batismo é no Espírito Santo! Falar
em “batismo nas águas” é voltar ao Antigo Testamento; é parar em João Batista e
desprezar o Sacramento do Batismo trazido por Cristo!
Foi
no Domingo da Páscoa que os Apóstolos tornaram-se realmente cristãos; receberam
a vida nova do Ressuscitado, foram transfigurados em Cristo! Aí nasceu a
Igreja: na Ressurreição! Aí ela foi batizada e recebeu o poder de batizar:
“Como o Pai me enviou, assim eu vos envio (Jo 20, 21)!” Assim, a Igreja deve
batizar todo aquele que crê. Isto significa acolher Jesus Ressuscitado nas
águas do Batismo. A palavra “batizar” vem do grego e significa, literalmente,
mergulhar, imergir. Mas não significa mergulhar na água, e sim a imersão no
Espírito Santo de Deus, o Espírito prometido que ressuscitou Jesus! É isso que
o Evangelho afirma: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no
Reino de Deus (Jo 3, 5)”. Observe bem: da água, símbolo e sinal do Espírito,
renascer do próprio Espírito!
O
mesmo Evangelho confirma: “Jesus, de pé, diz em alta voz: ‘Se alguém tem sede,
venha a mim e beba!’ (...) Ele falava do Espírito que deviam receber os que
creram nEle...” (Jo 7, 37-39). São Paulo explicou: “De fato, todos nós, judeus
ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para
formarmos um único Corpo (1Cor 12, 13).” Os cristãos não batizam somente na
água que purifica o corpo, e sim no Espírito que Jesus dá por sua Ressurreição!
Efeitos do Batismo - Primeiro, o Espírito dado no Batismo é para o perdão dos
pecados: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome do Senhor
Jesus Cristo, para a remissão dos pecados; e recebereis o Dom do Espírito
Santo.” (At 2, 38) Aquele que é batizado, recebendo o Espírito, recebe o perdão
dos pecados. O Espírito do Ressuscitado é Fogo que queima todo pecado e Água
que faz brotar uma vida nova.
O
Espírito nos livra, primeiramente, do Pecado Original. Todos nós, desde a nossa
concepção, somos membros de uma humanidade pecadora e desarrumada; uma
humanidade que, desde o início, teima em fechar-se para Deus. O resultado é o
desequilíbrio, o egoísmo, a falta de rumo.
Pelo
simples fato de sermos humanos já fazemos parte deste fechamento em relação a
Deus. Somos membros da humanidade, partilhamos do seu passado, que condiciona o
nosso presente, o que somos, pensamos e fazemos, assim como o nosso presente
condiciona o futuro dos nossos filhos. São Paulo diz: “Todos pecaram e estão
privados da Glória de Deus” (Rm 3,23). O salmista canta: “Minha mãe já me
concebeu pecador” (Sl 51, 5). É este o sentido do Pecado Original: ninguém
nasce justo ou santo diante de Deus. Mesmo a criança, ainda sem pecado pessoal,
já traz a marca do fechamento para Deus, do egoísmo, e o manifesta nas suas
malcriações, no egocentrismo, nas chantagens infantis... É este estado que
chamamos de Pecado Original.
É
essa força do pecado que o Batismo, na potência do Espírito Santo, apaga em
nós: “Não existe mais condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm
8, 1) E aos adultos, também os pecados pessoais são perdoados: “Se Cristo está
em vós, o corpo está morto pelo pecado, mas o Espírito é vida, pela justiça (Rm
8, 2.10)”. O Batismo torna-nos realmente santos; somos santificados pelo
Espírito daquele que destruiu o pecado: Cristo Jesus.
Aí
surge uma questão importante: se é assim, por que continuamos caindo em
tentação? Por que continuamos pecando, mesmo depois do Batismo? Para entender
esta questão, é necessário saber distinguir o que é pecado e o que é a
concupiscência.
Sim,
mesmo aquele que crê em Jesus, e vive no seu Espírito, ainda experimenta a
fraqueza. Isso acontece porque permanece uma tendência, uma inclinação para o
pecado. Essa inclinação, segundo a Escritura e o Catecismo da Igreja, é a
concupiscência. “O Batismo confere àquele que o recebe a graça da purificação
dos pecados. Mas o batizado deve continuar a lutar contra a concupiscência da
carne e as cobiças desordenadas (CIC §2520)”. A concupiscência não é pecado em
si, desde que o cristão a combata: a doutrina da Igreja esclarece que a
concupiscência foi-nos deixada para que possamos “combater o bom combate (2Tm
4, 7)”. Um mal desejo é concupiscência para o pecado, mas o pecado só se
concretiza se alimentamos esse desejo ou se o satisfazemos. Por isso Jesus ensina
a pedir ao Pai Celestial: “Não nos deixeis cair em tentação”.
E
além do perdão dos pecados, o Espírito que recebemos no Batismo nos une,
incorporando-nos em Cristo como membros de um só Corpo. Se temos o Espírito de
Cristo, somos uma só coisa com Ele: “Aquele que se une ao Senhor, constitui com
ele um só Espírito (1 Cor 6, 17)”! Maravilha das maravilhas! Pelo Batismo, a
Vida do Ressuscitado, que é o Santo Espírito, habita em nós! Cristo está em nós
e nós vivemos dEle e nEle! Assim, podemos dizer que o Batismo nos “cristifica”.
Como São Paulo, podemos dizer: “Já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em
mim.” (Gl 2, 20)
Batismo das crianças na Bíblia?
A
Sagrada Escritura cita vários exemplos de pagãos que professaram a fé cristã e
que foram batizados "com toda a sua casa". A palavra "casa"
('oikos', no texto original em grego) designava o chefe de família com todos os
seus domésticos, inclusive, sem nenhuma dúvida, as crianças:
"Disse-lhes Pedro: 'Arrependei-vos, e
cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados.
E recebereis o dom do Espírito Santo. A promessa diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos que
estão longe: a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar'." (At 2,38-39)
"E uma certa mulher chamada Lídia, vendedora
de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor
lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. E, depois que
foi batizada, ela e a sua casa,
rogou-nos dizendo: 'Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em
minha casa, e ficai ali'. E nos constrangeu a isso." (At 16,14-15)
"Tomando-os o carcereiro consigo naquela mesma noite, lavou-lhes os
vergões; então logo foi batizado, ele
e todos os seus." (At 16,33)
"Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa; e muitos
dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados." (At 18,8)
"Batizei também a
família de Estéfanas; além destes, não sei se batizei algum outro."
(1Cor 1,16)
No lugar
e período histórico a que os textos sagrados se referem, simplesmente não
existiam famílias sem crianças.
SACRAMENTO DO
BATISMO: A PRÁTICA
Quem pode ser
padrinho ou madrinha do Batismo? Qualquer
católico(a) que possa educar na fé aquele que vai ser batizado.
E os que morrem
sem Batismo? Deus “quer
que todos os homens sejam salvos (1Tm 2, 4).” A Igreja crê que aqueles que, sem
culpa, não chegaram a abraçar a fé cristã nem a receber o Batismo, mas tenham
vivido retamente de acordo com a sua consciência, podem receber a salvação de
Cristo por meios que somente Deus conhece. Quanto àscrianças que morrem sem
o Batismo, se por um lado já nascem feridas pelo Pecado Original, também já
nascem marcadas pela mesma salvação, que Cristo trouxe para todos.
Quem é o ministro
do Batismo? É o bispo,
padre ou diácono. Em caso de real necessidade, qualquer pessoa, mesmo não
batizada, pode batizar, utilizando a fórmula: “Eu te batizo em Nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo”. Logo que possível, porém, deve-se levar o batizando
à igreja para que um sacerdote celebre os ritos complementares e anote seu nome
no livro dos batizados.
O que é necessário
para o rito do Batismo? Fundamentalmente,
a água. O Batismo pode ser feito por tríplice imersão ou infusão, isto é,
derramando-se três vezes água na cabeça da criança e pronunciando-se as
palavras rituais. São ritos complementares: o Sinal da Cruz (o batizado
pertence a Cristo), a leitura da Palavra, a imposição da mão e a unção do peito
(a Força de Cristo toma conta da pessoa, expulsando todo influxo maligno), a
renúncia a Satanás, a confissão da fé católica, a unção com o Santo Crisma (o
batizado foi ungido, como Cristo, pelo Espírito Santo), a veste branca (glória
e imortalidade), a vela acesa (o novo cristão foi iluminado pelo Ressuscitado)
e a oração do Pai Nosso, que recorda que o novo cristão agora é filho de Deus e
pode, como Jesus, chamá-lo de Pai.
A preparação para
o Batismo - Os pais
cristãos têm obrigação de cuidar para que as crianças sejam batizadas nas
primeiras semanas de vida, e toda a comunidade deve oferecer aos pais a
oportunidade da preparação para o Batismo dos seus filhos. Essa preparação é um
conjunto de iniciativas para oferecer aos pais e padrinhos a correta orientação
e a inserção na vida da Igreja. O Batismo incorpora o batizando à comunidade,
por isso o ideal é que a preparação e a celebração sejam feitos na paróquia
onde os pais ou o próprio batizando (caso adulto) moram ou frequentem.
Os encontros com a comunidade devem
ser participativos, fraternos e coerentes com a realidade da pessoa. É
importante usar a sensibilidade e adequar o conteúdo aos participantes. A
comunidade deve mostrar, através de gestos concretos, a vivência da fé e do
amor fraterno. Crianças até sete anos de idade não precisam de preparação, mas
acima disso devem ser inseridas na comunidade, assim como os adultos, para que
aprendam a importância dos Sacramentos e possam vivenciar Deus de fato.
Em sua vida, até hoje, existiram
diversos momentos decisivos e importantes, que são comemorados por você, por
sua família e amigos todos os anos: o dia em que você nasceu, o dia em que se
casou... São comemorações válidas, sem dúvida. E se essas coisas temporárias,
que um dia perderão a importância e o significado, pois pertencem a este mundo
passageiro, merecem ser celebradas, imagine então o dia do seu Batismo, dia em
que você nasceu para a vida eterna, a vida na Graça Divina, que dura para
sempre? O dia em que você foi integrado ao Corpo de Cristo?
Responda rápido: qual a data do seu
Batismo? Você procura ir à Missa, ou pelo menos rezar de modo especial, nesse
dia? Você reflete sobre o grande dom que Deus lhe ofereceu? Pois é...
SACRAMENTOS DA IGREJA CATÓLICA. Disponível em: < www.ofielcatolico.com.br >. Acesso em: 15/01/2017.
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